Uma Crônica Sobre a Igreja à Luz de II e III João
Prezada senhora, permita-me ir direto ao ponto: sei o quanto és preciosa aos olhos de teu senhor, afinal não foi por pouco esforço que ele te conquistou. Para seres dele, os maiores esforços e as maiores riquezas teu senhor dedicou de maneira que por obra dele a senhora foi atraída e tornou-te senhora de tão rico senhor. Com alto preço a senhora foi comprada. O que quero dizer é que valiosíssimo dote foi pago pelo teu senhor para tê-la para si.
Lembra-te que eras cativa ao pior dos proprietários? Destruidor era o nome de teu antigo dono. E a angustiante curiosidade de teu anterior estado é que embora escravizada, tu amavas teu antigo senhor e te dedicavas às ambições dele. Tu ardias pelas paixões malévolas de teu amo. Andavas com algemas em teu pescoço que te identificava como pertencente a ele, sendo assim escrava dele, mas sentias um estranho prazer naquelas cadeias que feriam tua pele. Tua vontade, dileta senhora, era a vontade de Destruidor. E com isso, sem ter real noção disso senhora, destruías tua alma. Estavas tão inebriada com o torpor das tuas próprias paixões que não tinhas olhos para mais ninguém.
Contudo teu atual Senhor tomou-te para si. Ele te redimiu! Senhora, teu marido te conquistou a preço alto, pois não tu tinhas olhos para mais ninguém senão para Destruidor e as paixões que ele te oferecia. Teu mundo se resumia ao mundo da escuridão de Destruidor, e quando teu atual senhor desejou te livrar desse príncipe das trevas, tu não desejavas isso, pois, interessantemente, tu eras amiga do mundo em que Destruidor reinava e inimiga de qualquer opositor dele. Foi necessário teu atual senhor te amar primeiro, pois quando te amou ainda eras inimiga dele. Conta-se que ele invadiu o castelo do valente, esmagou a cabeça de Destruidor, tuas cadeias foram quebradas, foste retirada desmaiada de teu aposentos, teu senhor te carregou, limpou tuas feridas, vestiu-te de uma roupa tão alva quanto a neve, e colou-te um coroa de ouro. Senhora, ele te tomou para si e te transportou para o seu Reino repleto de amor! Percebes com que grande amor ele te amou? Percebes que hoje tu amas teu marido porque ele te amou primeiro?
Devo dizer-te, nobre senhora, eu um ancião que amo a verdade, que fico sobremodo alegre com os filhos gerado desse santo matrimônio: rebento que anda na verdade, filhos santos gerados para a glória de teu senhor e da tão grandiosa obra que ele fez em teu favor. E agora, dileta senhora, peço-te que atentes a algumas preocupações para com uns que se dizem teus filhos, mas que creio que não são.
Dentre esses existe um que se chama Caim, homem iracundo, indócil, desanimado, egoísta e petulante. Orgulho deveria ser o segundo nome dele. Ele tira a paz do reino de teu senhor e insere a injustiça e o ódio entre tua família. Há também outro rapaz chamado Cam. Ele é lascivo, malicioso, desdenhoso, irreverente e irresponsável. Nunca percebeste que ele zomba de ti e de teu senhor? Anda falando maledicências e difamando a pureza de teu nome e de teu marido, senhora! Esses dois, já bem crescidos, não se parecem contigo, senhora, tampouco com o teu senhor. A pureza e a santidade de teu marido não se refletem neles. A humildade, simplicidade, amor e bondade do teu senhor não se percebem nesses que se dizem teus filhos (mas que não são; eu sei!). Além desses, ouvi falar de um suposto filho teu que atende pelo nome de Acã, que é desobediente, avarento, ama mais ao dinheiro do que fazer a vontade de teu senhor. Homem profano que confia mais em si mesmo do que na benevolência daquele a quem ele chama de pai. Esse homem tem mais prazer nas coisas do reino das trevas do Destruidor, do que no reino de amor de teu senhor. Ele envergonha teu santo proceder, senhora, bem como macula a imagem de teu senhor – que está impressa nos verdadeiros filhos desse homem santo.
Além desses que são mais velhos, há alguns mais jovens que também se dizem teus filhos, senhora (mas que julgo não serem de fato!). Um deles é chamado Diótrefes, que é amante do poder e da preeminência desejando sempre exercer o governo à força, mas que não se parece com o esvaziamento de teu senhor, nem com a pureza com que passaste a te caracterizar depois da redenção que teu marido te ofertou. Ele traz divisão à tua família amando uns, mas não a outros. Além disso, ele gosta de exercer a primazia entre seus irmãos, sendo autoritário, ambicioso, orgulhoso e malicioso. Outro de quem ouvi falar coisas vergonhosas se chama Demas. Diz ser teu filho, mas se parece com os filhos do Destruidor, pois ele é como a palha que é levada para onde o vento soprar. Diferente de tua firmeza, Demas passou a amar aquilo que a senhora amava em teu passado, escrava do teu antigo algoz. Ele profanou todo alimento que recebeu de teus seios senhora, abandonando a ti e o teu Senhor. Pude saber, finalmente, que também existe uma repugnante moça que diz ser tua filha. Ela se chama Jezabel. Disseram-me que é insubmissa ao marido dela e a outras autoridades masculinas e como se isso já não fosse iniquidade intolerável ainda se prostitui e influencia outros filhos teus a essa prática infame. Todos esses teus filhos, santa senhora, caracterizam-se pela profanidade, impureza, impiedade e injustiça. Marcas inexistentes em teus verdadeiros filhos os quais eu bem conheço.
Ainda teria outros bastardos que se dizem teus filhos contra quem desejaria escrever-te e, assim, alertá-la, mas deixo para outra oportunidade, senhora, pois alimento a esperança de vê-la em breve para primeiramente alertá-la contra esses degenerados, e para compartilhar a alegria da presença de teus verdadeiros filhos, os santos, justos e piedosos que amam a verdade. Encontrei-me recentemente com alguns deles, e preciso dizer-te, ó querida senhora, quão grande prazer tenho em estar na presença da tua santa família amante da verdade! Quanto a eles, também quero escrever-te, pois são dignos dos mais honrosos elogios e muito teria a falar-te sobre eles, suas virtudes e como lembram o caráter idôneo de teu senhor, contudo deixarei para outro momento, ou quem sabe para deles falar-te de viva voz!
Assim sendo, despeço-me saudando teus verdadeiros filhos. Os filhos de tua irmã eleita te saúdam!
Pr. Alcir Moreno